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Sendo mãe, mãe de disléxico

Atualizado: 21 de jul. de 2021

Mãe, por que todos os meus amigos estão lendo e eu não? Eis aí uma pergunta que ouvi algumas vezes nos últimos anos.

Mãe, eu estudo, estudo e nem sempre eu gravo, pros meus amigos parece tão mais fácil. Essa é mais uma frase da qual sou familiarizada.

Sim, é um desafio, é um reinventar-se todos os dias. Sendo bem sincera, é um enxergar o mundo novamente, mas desta vez de modo diferente.

Na fase de alfabetização precisei deixar de lado todas as minhas expectativas e aprender a ter paciência, entender que não existe preguiça, mas sim dificuldade. Um passo importante e fundamental é buscar ajuda, afinal, mesmo sendo pedagoga, sou antes de tudo, a mãe.

Entra em cena então a psicopedagoga, a primeira profissional a nos ajudar na missão do aprender a ler e escrever, a entender esse mundo das letras e sons. Sim, sons! Compreender a fonética e desenvolver a consciência fonética é o grande diferencial para a alfabetização de uma criança com dislexia.

A cada instante um livro é aberto, uma letra é apresentada, quantas vezes placas foram mostradas e letras questionadas no trânsito da cidade. Nenhuma folga surgia, eram estímulos incessantes.

Pois é, mas mesmo assim a leitura não se fazia, que passo dar? Buscar mais ajuda, realizar uma avaliação e ter muito mais paciência. Até que surge um diagnóstico, gosto dessa palavra, ela trouxe clareza para a minha casa. O diagnóstico de dislexia não é um rótulo, não é uma desculpa, mas sim uma luz, hummm então era isso, era isso!

Mas isso o quê Senhor? Dislexia!

Dislexia, um transtorno da leitura, escrita e interpretação. Bacana, legal, diagnóstico em mãos, muitas reuniões com escola e terapias iniciadas e a preocupação agora muda, passa a ser o que fazer?

Sem dúvida alguma, estudar! Entender a fundo o que é esse transtorno para buscar alternativas de ajudar, de estimular de modo mais eficiente. Assim, todos os dias, durante alguns anos, leio, registro, pesquiso, assisto palestras e mudo os meus óculos, mudo o meu jeito de enxergar o mundo.

Me reconstruo como mãe, como pessoa, aprendo a ouvir e aprendo principalmente a pensar de modo diferente. Na verdade, esse se torna o meu grande desafio, sou acostumada e treinada a pensar sempre da mesma forma e de repente sou desafiada a sair da caixinha, a entender que há outras maneiras, possibilidades.

A lição que fica é: reconheça as habilidades e valorize-as, sempre há um caminho, com olhar atento descobrimos.

Um dia de cada vez, um desafio por vez, a cada passo um saudoso caminho é percorrido.

Muitas pessoas embarcam juntas nesse desafio de novas possibilidades, vão entendendo as solicitações, não como um passar a mão na cabeça, mas sim como equidade, afinal existe um transtorno, uma dificuldade, mas nunca existirá uma impossibilidade.

Sou mãe e tenho orgulho!

Por Renatha de Paula

@renatha.depaula

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